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Ester – Escolhas difíceis e esperança

Aprendendo com Ester dificilmente criaríamos o slogan “Ouse ser uma Ester” nesse ponto da história. Tudo o que ela nos mostrou até agora é um espírito dócil e complacente para com aqueles que a rodeavam. Isso é bom ou ruim? De certa maneira é bom, já que ela está respeitando a família e as autoridades civis que Deus estabeleceu sobre ela. Os filhos devem, em geral, obedecer a seus pais; e os cidadãos devem, em geral, obedecer às leis do império. Ainda assim há ocasiões em que deveríamos ter uma “santa indignação” em relação às exigências não santas da família, como Sara fez em Gênesis 21.10, e às exigências não santas do império, como Daniel e seus amigos fizeram em Daniel 1-6.

Nesses dois exemplos, Deus aprovou especificamente a recusa do seu povo a se submeter à autoridade. Há ocasiões na vida de cada um de nós em que deveríamos nos recusar a ocultar aquele a quem servimos. Todos nós somos, por vezes demais, motivados a ocultar nossa fé ou a recusar confrontar alguém que precisa ouvir a verdade, porque queremos agradar as pessoas e evitar o conflito.

Contudo, quando defendemos nossa fé, precisamos estar preparados para as consequências das nossas ações. Às vezes, o império pode nos surpreender retrocedendo, como em Daniel 1, quando os quatro jovens tiveram permissão para escolher a própria comida. Mais frequentemente, no entanto, essa atitude nos jogará na fornalha de fogo ardente ou na cova dos leões, como em Daniel 3 e 6. Se Deus escolhe nos resgatar miraculosamente, tanto melhor. Mas se não, nosso Deus é digno de tal sacrifício e deveríamos o oferecer alegremente, em vez de nos curvarmos aos ídolos que o império nos apresenta para adorar (veja Dn 3.18).

Nesse ponto da história, Ester com certeza não é nenhum Daniel. Ela está no mundo e é do mundo, totalmente comprometida com as exigências ultrajantes do império a fim de obter “amor” de um marido real indigno. Talvez ela tivesse argumentado que tinha pouca escolha; mas se alguém está disposto a sofrer as consequências, a total obediência à lei de Deus sempre é uma opção. Vasti, a pagã, já havia mostrado no capítulo anterior que o império não pode nos obrigar a obedecer.

Com certeza Ester não é um modelo para nós em sua condescendência. Ainda assim, não podemos ignorar o fato de que a história dela de condescendência e pecado não a desqualifica para a oportunidade de obedecer mais tarde, uma obediência que trará bênção para o seu povo. Não é por causa de uma generosa isenção de impostos, no governo de Assuero (Et 2.18), que a coroação de Ester entrará para a História.

Essa é a esperança para todos os que se encontram em circunstâncias difíceis no presente, por causa de pecados e concessões anteriores. Aqui está a esperança para as pessoas que se casaram com um cônjuge não cristão, mesmo sabendo que isso era errado. A pessoa que escolheu uma carreira com base em todas as motivações erradas. Aquele que gastou toda a vida em busca de objetivos errados.

Todos podem descobrir que Deus é soberano até mesmo sobre as escolhas pecaminosas e oportunidades desperdiçadas. Talvez ele tenha nos trazido para onde estamos hoje para que possamos servir a ele de uma maneira única. Se for assim, isso não toma corretas aquelas decisões e atos pecaminosos. Mas isso deveria nos levar a dar graças a Deus, que é capaz de extrair beleza dos nossos esforços maculados e sujos. Erros passados não nos excluem de um papel significativo no roteiro de Deus para o futuro.

Estudos bíblicos expositivos em Ester e Rute, de Iain M. Duguid, Cultura Cristã

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