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Sentido para o ano novo 

Em todas as coisas Deus deve ser glorificado (1Pe 4.11). Segundo Thomas Watson (1620-1686), “a glória de Deus é o fio de prata que deve estar presente em todas as nossas ações (1Co 10.31). No mundo natural e nas coisas artificiais, tudo coopera para uma finalidade. Portanto, o homem, sendo uma criatura racional, deve propor uma finalidade para si mesmo, a qual deveria ser exaltar Deus no mundo” (A fé cristã, Cultura Cristã, p.21). 

A ideia de finalidade e propósito é central no filme A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorcese (Hugo, EUA, 2011), adaptado para a tela do livro de Brian Selznick. É a história de um órfão de 12 anos, Hugo Cabret, que faz a manutenção dos relógios de uma estação ferroviária em Paris, nos anos de 1930. Sozinho desde a morte de seu tio que cuidava dos relógios, Hugo quer consertar um autômato danificado que seu falecido pai tentara consertar sem sucesso. Hugo alimenta a esperança de que, quando reparado, o autômato o ajude a entender o sentido de sua existência. 

Selznick apresentou a ideia de que sonhos realizados são pessoas que foram consertadas, propósitos cumpridos. Sonhar é próprio de uma criança. Então, nesse filme, um menino servirá como agente que negará e reverterá o estado de inadequação de quem não cumpre o seu propósito. Essa criança lembra que somos seres dotados de capacidade intuitiva para imaginar soluções e acreditar em nossos sonhos. Ao indivíduo que abre mão de seus sonhos resta a alternativa de cair na vala comum do não ser, como o cineasta Georges Mèliés apresentado no filme. Desalentado, ele entrou no ritmo mecânico, impessoal, de vender coisas, de abrir e fechar sua lojinha todo dia e mesmo de tentar queimar lembranças de seu passado. É preciso resgatá-lo, como tantos que vivem sem propósito. 

Excelente filme, um convite à reflexão, mas uma obra como a de Selznick, filmada por Scorcese, não reconhece o fim último do ser humano. Voltando a Thomas Watson, “A finalidade de sua existência é mais importante que a própria vida. A grande verdade já nos foi apresentada e nos afirma que a finalidade da existência de todo homem deveria ser glorificar a Deus”, o Deus de toda a glória. 

Há a glória intrínseca de Deus, elemento fundamental e inseparável de sua natureza divina, que Watson compara à luz que emana do sol. Essa característica é tão essencial que define a própria existência de Deus, diferentemente das honras que recebe de suas criaturas, que são secundárias. 

Diferente de um rei terreno, cuja majestade depende de símbolos externos como coroa e vestimentas, a glória de Deus é parte indissociável de seu ser. Por ser infinita, essa glória não pode ser aumentada ou diminuída. É um atributo único que Deus não compartilha (Is 48.11). 

Embora conceda diversos tipos de bênçãos aos seus filhos — tanto temporais (sabedoria, riqueza, honra) quanto espirituais (graça, amor, salvação) — Deus mantém sua glória essencial exclusivamente para si. Watson viu ilustração desse fato na história de José no Egito, em que o faraó compartilhou privilégios com ele, mas manteve sua autoridade suprema (Gn 41.40). 

Deus promete compartilhar muitas coisas com seu povo, incluindo uma herança e aspectos da glória de Cristo como mediador, mas preserva sua glória essencial intacta, mantendo sua posição suprema que devemos exaltar. 

Quanto à glória tributada a Deus, ela se refere ao reconhecimento e louvor que suas criaturas são convocadas a lhe oferecer. As Escrituras orientam os fiéis a glorificar a Deus tanto por meio de ações concretas quanto pela exaltação de seu nome perante outros (1Cr 16.29; 1Co 6.20; Fp 1.20). Na verdade, fazendo o que quer que seja (1Co 10.31). 

O ser humano, que teve a sua imagem divina distorcida por ocasião da Queda, é como o autômato avariado de Hugo Cabret. Depois de restaurado, sua assinatura revela a identidade de seu criador. Só a criatura restaurada pode cumprir o seu propósito último que é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre (Breve Catecismo de Westminster, p/r 1). 

Aos nossos leitores, feliz ano novo. Com propósito. 

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