Todos os que confiam em Cristo podem compartilhar de sua vitória sobre a morte. Como? Pela fé. O exemplo de Ebede-Meleque em Jeremias 38 ensina que Deus salva a todos os que confiam nele.
Ebede-Meleque era um zé-ninguém. Para começo de conversa, ele era um etíope. Os etíopes eram gentios, negros africanos oriundos da Etiópia ou do Sudão. Assim, Ebede-Meleque era um estrangeiro em Judá. Além disso, era um eunuco no palácio real. Talvez fosse encarregado do harém de Zedequias, mas, seja como for, ele era um escravo, e muito provavelmente um escravo emasculado. Talvez sequer saibamos o nome dele, pois “Ebede-Meleque” significa simplesmente” servo do rei”. Não era exatamente um nome. Mesmo que fosse o nome próprio do rapaz, mostra que ele não tinha identidade própria. Sua situação como ser humano era completamente definida pelo seu relacionamento com seu dono.
No contexto da cultura hebraica, Ebede-Meleque era um zero à esquerda. Ele não tinha nome. Era separado do povo de Deus pela sua etnia. E não podia entrar no templo de Deus por causa da sua deformidade sexual (veja Dt 23.1).
Todavia, Ebede-Meleque importava, sim, porque ele era importante para Deus. Lembre-se que Jeremias foi chamado para ser um profeta para as nações. Ebede-Meleque foi o fruto desse ministério internacional. Apesar de ser um etíope, ele atentou para a Palavra de Deus de Jeremias e a recebeu para a salvação.
Veja quão corajoso ele se tornou no serviço de Deus. Em primeiro lugar, ele deixou o seu posto. “Saiu Ebede-Meleque da casa do rei” (Jr 38.8). Essa não era uma boa jogada na carreira profissional, especialmente para um escravo.
Em seguida, Ebede-Meleque foi buscar uma audiência com Zedequias: “Ouviu Ebede-Meleque, o etíope, eunuco que estava na casa do rei, que tinham metido a Jeremias na cisterna; ora, estando o rei assentado à Porta de Benjamim saiu Ebede-Meleque da casa do rei e lhe falou […]” (v. 7-8). O escravo não falou ao rei em algum canto privado do palácio, mas foi e confrontou-o em público, enquanto ele estava conduzindo as questões do seu estado. Diante de toda a corte, ele acusou os acusadores de Jeremias: “Ó rei, senhor meu, agiram mal estes homens em tudo quanto fizeram a Jeremias, o profeta, que lançaram na cisterna; no lugar onde se acha, morrerá de fome, pois já não há pão na cidade” (v. 9).
Por ser um homem de Deus, Ebede-Meleque estava disposto a tomar uma posição a favor do profeta do Senhor. Ele podia ver que Jeremias morreria muito em breve, mas valorizava a vida do profeta de Deus tanto quanto apreciava a verdade da Palavra de Deus. Mesmo quando o mundo inteiro parecia estar mobilizado contra ele, Ebede-Meleque teve a coragem de fazer o que era certo.
Calvino observou que, quando comparamos a coragem de Ebede-Meleque com a covardia de Zedequias, “a maravilhosa constância e a singular mansidão do servo de Deus brilham gloriosamente”.
Estudos bíblicos expositivos em Jeremias e Lamentações, de Philip Graham Ryken, Cultura Cristã.