Por Rev. Hermisten da Costa
Em 1559, Calvino começou uma Academia em Genebra com a missão de educar os protestantes da língua francesa, atingindo em sua maioria, alunos vindos da França, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Itália e de outras cidades da Suíça. Calvino não concebia a Academia distante da igreja, antes, sustentava dois princípios fundamentais: a unidade da Academia e a união íntima dela com a Igreja. Com esse propósito, todos os professores estavam sob a jurisdição disciplinar da igreja devendo subscrever a Confissão de Fé adotada.
A partir da Academia o pensamento protestante se internacionalizou. Novas universidades são criadas e outras, de origem medieval, aderem ao novo sistema de pensamento, destacando as universidades de Wittenberg (1502), Heidelberg (1386, tornando-se oficialmente protestante reformada em 1556), Leiden (1575), Academia de Saumur (1593). Mais tarde, a Universidade de Harvard (1636), Universidade de Ultrecht (1636), Universidade de Halle (1694), Universidade de Yale (1701), Universidade de Colúmbia (Antiga King’s College, 1754), Universidade de Princeton (Antiga College of New Jersey, 1746).
Tanto na Academia como na igreja, muitos dos exilados passaram a ouvir Calvino diversas vezes por semana. Não era estranho o coração desses homens começar a pulsar mais acelerado movido pelo ardor missionário, passando a desejar voltar para as suas cidades e países a fim de proclamar com maior profundidade o evangelho.
Após conversar com esses irmãos, os examinar e treinar, Calvino consentia em enviá-los de volta às suas terras. No entanto, esse envio os ligava para sempre ao coração do reformador, sempre disposto a se corresponder com eles os aconselhando, instruindo e orientando. A ampla correspondência de Calvino é um testemunho dessa ligação fraterna.
Além disso, Genebra se tornou um grande centro missionário, uma verdadeira “escola de missões”, porque os foragidos que lá se instalaram, puderam, posteriormente, levar para os seus países e cidades o evangelho ali aprendido. “O estabelecimento da Academia foi em parte realizado por causa do desejo de suprir e treinar missionários evangélicos”, informa-nos Mackinnon (1860-1945). (James MacKinnon, Calvin and the Reformation, Londres: Penguin Books, 1936, p. 195).
Calvino falava à igreja (sermões) e treinava sua liderança (comentários bíblicos). Ele estava convencido de que o único caminho para o fortalecimento da igreja era o ouvir, assimilar e aplicar a Palavra às situações práticas da vida.
Destacamos que, com exceção de Isaías, todos os comentários de Calvino sobre os profetas “consistem em sermões direcionados a alunos em treinamento para o trabalho missionário, principalmente na França” (T.H.L. Parker em João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, p. 13).
Courthial (1914-2009) ilustra: “Muitos huguenotes naqueles dias, quer estivessem visitando, quer estivessem de viagem, levavam no bolso de seu grande casaco uma Bíblia em francês ou uma cópia das Institutas, pessoalmente anotadas e com as passagens-chaves sublinhadas, ou levavam, ainda, algum folheto reformado de Genebra ou Basiléia. Quantos deles foram lançados nas chamas das estacas simplesmente porque tais obras foram descobertas com eles ou em suas casas, na gaveta de uma mesa, num armário ou em outro esconderijo, ou mesmo, em lugar de trabalho ou ainda em sua fazenda” (Pierre Courthial, A Idade de Ouro do Calvinismo na França (1533-1633): In: W.S. Reid, org. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: CEP, 1990, [p. 87-109], p. 90).
A Academia, portanto, além de um centro intelectual rigoroso, procurando vivenciar, pela graça, a sabedoria de Deus em seus estudos e ensino, era também um grande centro missionário, subordinando todo o saber a Cristo e, partir dele, viver e anunciar o evangelho a todos os povos.
A partir da Academia, vemos uma associação abençoada entre piedade, preparo e missão. Tudo para Glória de Deus.
O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, pastor-auxiliar da 1ª IP São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, é Coordenador de Curso e ensina teologia no JMC, é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano.