O Natal se aproxima, mas para muitos a “boa nova, de grande alegria”, anunciada pelos anjos (Lc 2.10), parece estar mais distante esse ano. Alguns perderam parentes queridos e passarão o primeiro Natal sem eles. Outros, continuam travando uma luta intensa contra enfermidades críticas e diagnósticos negativos. Há ainda várias histórias marcadas por conflitos e dores que comprometem os momentos de deleite em família. Ademais, a correria, as demandas diárias e o estrangulamento financeiro, acabam gerando estresse, fadiga e desesperança em muitos corações. A verdade é que alguns têm navegado águas tumultuosas ao longo do ano e nem sabem como celebrarão o próximo Natal.
Há que se considerar ainda que, para outros tantos, a alegria do Natal está comprometida, pois já não celebram esse evento à luz da motivação bíblica. Nossa cultura secularizada e pós-cristã acabou “roubando” a glória do Natal da mente de muitos, inclusive de crentes. Consequentemente, o Messias foi substituído pelo materialismo dos presentes e o Salvador, pela figura colorida do Papai Noel. As ruas ficam iluminadas e as residências decoradas, mas quantos, de fato, entendem o que estão celebrando? Essa comercialização consumista distorce a mensagem do Natal e a alegria verdadeira parece mais distante quando isso acontece.
Porém, gostaria de lembrar algumas verdades bíblicas sobre o nascimento de Cristo, que espero, sirvam de consolo e confrontação para muitos nesses dias. Devemos considerar que um dos objetivos do Pai celestial com as verdades bíblicas é que “pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4), mas essas mesmas palavras servem de advertência a todos que caminham no erro.
- A alegria do Natal não consiste nas circunstâncias, mas no fato de que “nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11). Aliás, as circunstâncias do nascimento de Jesus não eram favoráveis. Houve uma “gravidez inexplicada”, o que poderia gerar desonra e até mesmo a morte de Maria, dependendo da maneira como o caso fosse exposto. José também, experimentou momentos de grande confusão mental e emocional, ante ao surgimento de sua noiva grávida. Ademais, por ocasião do nascimento do bebê, não havia lugar nas hospedarias e o parto aconteceu em uma manjedoura. Que lugar terrível para o Rei dos reis nascer! A despeito das circunstâncias desfavoráveis relacionadas ao nascimento de Jesus, a alegria gerada por sua vinda ao mundo foi enorme. A celebração daquele evento abrangeu anjos e homens, pois as promessas do Senhor haviam se cumprido e todos souberam que, para Deus, “não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37). O mesmo Deus que operou nos eventos relacionados ao nascimento de Jesus continua a atuar no universo e em nossas vidas. Portanto, podemos nos alegrar!
- A alegria do Natal não consiste no fato de que tudo está bem conosco, mas no fato de que, em Cristo, tudo ficará bem. A encarnação e o nascimento de Jesus trouxeram esperança aos desesperados. As Escrituras declaram que “o povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.16). Também, o nascimento de Jesus resultou na inauguração do Reino de Deus e isso possibilitou perdão pelo arrependimento e salvação pela graça (Mt 3.2), pois o Cordeiro que tira o pecado do mundo havia nascido em um estábulo. Se um estábulo é um lugar horrível para o Rei dos reis nascer, devemos lembrar que aquele foi o lugar ideal para o Cordeiro de Deus vir ao mundo. A esperança poderia inundar os corações e as pessoas poderiam se alegrar! As bênçãos do nascimento de Jesus nos asseguram que uma nova era foi inaugurada e que Deus colocará em ordem todas as coisas. Por isso, mesmo que algumas coisas em nossa vida não estejam bem, o fato de Jesus ter se encarnado e nascido apontam para a realidade de que tudo ficará bem. Devemos sempre lembrar da afirmação de Paulo: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.32).
- A alegria do Natal não consiste nos presentes recebidos, mas na Pessoa encarnada de Jesus Cristo.A Palavra inspirada e inerrante de Deus não nos permite trocar a glória do Deus Bendito pelo brilho das coisas criadas. No nascimento de Jesus, Deus expôs ao mundo a maravilha do seu amor imensurável. Naquele Natal, o Deus alto e sublime veio habitar entre pecadores, se revelando como Emanuel; “Deus conosco” (Mt 1.23). Naquele instante, a luz foi revelada e as travas foram vencidas. Esta é a glória do Natal. O Natal é muito mais do que uma época de luzes, presentes e crianças sorridentes. Ele é o ponto central de toda a história, pois o nascimento de Cristo divide a história em duas partes. Embora as luzes do Natal contemporâneo sirvam apenas como decoração, nas Escrituras, a luz é entendida como um sinal da revelação divina. O nascimento de Jesus trouxe a luz inabalável da majestade de Deus. A humanidade que vive em trevas desde a entrada do pecado no mundo (Gn 3), carece da “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Com isso, a alegria do Natal consiste na comunhão com a Pessoa de Cristo, o Salvador.
Realmente espero que todos experimentemos a alegria celestial nesse Natal e o grande conforto de saber que nosso Redentor que nasceu, venceu a morte, continua intercedendo por todos nós. Nossa alegria se fundamenta em quem Ele é e naquilo que ele tem realizado por todo o seu povo.
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O Rev. Dr. Valdeci da Silva Santos é o diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, pastor da IP do Campo Belo e colaborador do Brasil Presbiteriano