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Lutero, Calvino e a Reforma

O século 16, o início da era moderna, é um dos maiores divisores de águas em toda a História, pois testemunhou o desdobramento da Reforma protestante. Beneficiando‑se da erudição bíblica do Renascimento, da recuperação do conhecimento clássico e do zelo de servos fiéis no final do século 15 e início do século 16, a Reforma foi o maior reavivamento da igreja cristã desde Pentecostes.

Um dos principais reformadores foi Martinho Lutero. Nascido no Norte da Alemanha, em 1483, Lutero era um aluno esperto enviado por seu pai para estudar direito na universidade local. Ele era essencialmente um produto da espiritualidade e teologia medieval. Essa teologia, com forte ênfase no julgamento de Deus e na necessidade do homem de alcançar a salvação por meio de penitência, dos sacramentos e das boas obras, levou‑o a uma dúvida perpétua em relação à sua própria salvação.

Certo dia, o cavalo de Lutero o derrubou, e ele foi ferido. Em outra ocasião, ele ficou aterrorizado com uma tempestade. Ele jurou tornar‑se monge.

Lutero e as indulgências

Como monge, a falta de justiça atordoava Lutero, apesar de sua intensa autodisciplina e de seu conhecimento crescente da Bíblia. Logo, tornou‑se professor bíblico na universidade local. Ele encontrou um texto perturbador em Romanos 1.16‑17 sobre a justiça de Deus revelada do céu e ficou aterrorizado com a justiça de Deus, vendo‑a apenas como a justa ira de Deus contra o pecado. Mas após estudar mais, ele reconheceu que Paulo tinha em mente a justiça de Jesus Cristo, que Deus nos oferece como um dom gratuito, recebido pela fé. Lutero sentiu como se as correntes da culpa e da vergonha tivessem caído dele quando entendeu pela primeira vez essa verdade fundamental do evangelho.

Naqueles anos, o papa, na tentativa de conseguir dinheiro para construir a nova basílica de São Pedro, em Roma, liberou a venda de indulgências ou perdões. As pessoas podiam comprar indulgências que prometiam a libertação dos rigores do purgatório para seus entes falecidos. Na parte da Alemanha onde vivia Lutero, a missão de vender esses perdões foi dada a um monge dominicano, Johan Tetzel, que passou a vendê‑los com o zelo de um peixeiro.

Lutero e as 95 teses

Lutero, convencido da imoralidade dessa prática, decidiu partir para a ação. Em 31 de outubro de 1517, ele pregou as 95 teses no portão da igreja do castelo de Wittenberg. Essas teses, escritas em latim, pretendiam provocar uma discussão entre os estudiosos e monges da universidade. Grande parte daquilo que escreveu era uma explicação da verdade do evangelho e uma condenação da igreja por ter deixado de acreditar no evangelho e de pregá‑lo. Apesar de Lutero nunca ter tido essa intenção, logo traduziram as 95 teses para praticamente todas as línguas da Europa.

A mensagem da justificação pela fé em Jesus Cristo se espalhou pelo continente como um fogo. Lutero foi processado, seu ensinamento foi condenado e ele foi excomungado. Amigos, preocupados, lhe ofereceram refúgio, e ele se pôs a traduzir a Bíblia para o alemão. Nos anos seguintes, muitas partes da Europa adotaram a Reforma, e quase sempre os escritos de Lutero iniciavam esse processo.

A influência de Lutero

A influência de Lutero se propagou, e muitos outros reformadores surgiram para dar continuação à obra. João Calvino, da França, realizou o trabalho de dez homens ao longo de uma vida relativamente curta. A essência de sua vida e obra era a tarefa de fazer uma exegese das Escrituras, à qual ele se dedicou diariamente. No entanto, nenhum aspecto da vida e da sociedade permaneceu intocado pela influência de Calvino. O pensamento de Calvino marcou não só a teologia, adoração, política eclesiástica e missões, mas também a educação, governo, economia, indústria e trabalho social. Consequentemente, alguns dizem que Calvino exerceu uma influência maior sobre a nossa história e cultura do que qualquer outro indivíduo dos últimos mil anos ou desde o encerramento do cânone do Novo Testamento.

Outros reformadores foram Filipe Melanchthon, na Alemanha, Ulrico Zwínglio e Heinrich Bullinger, na Suíça, Pietro Martire Vermigli, na Itália, John Knox, na Escócia e Thomas Cranmer, na Inglaterra. Muitas pessoas têm escrito bastante sobre esses indivíduos e muitos outros que contribuíram para a Reforma protestante. Os cristãos de hoje devem muito ao seu trabalho e testemunho. Apesar de terem tido seus erros e falhas, os cristãos dos dias da Reforma estavam cheios do poder e da energia do evangelho. Essa energia continuaria a se espalhar nos anos após a Reforma.

Texto extraído da Bíblia de Estudo Herança Reformada

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