Rev. Ashbel Green Simonton – 150 anos de seu falecimento
O dia 9 de dezembro de 1867 foi muito triste para a pequena IP de São Paulo, organizada menos de três anos antes. Acabava de falecer, com 35 anos incompletos, o Rev. Ashbel Green Simonton, pioneiro do presbiterianismo no Brasil. O desenlace ocorreu na residência de seu cunhado, Rev. Alexander Latimer Blackford, na Rua Nova de São José, nº 1, junto ao Largo de São Bento, endereço no qual também se reunia a jovem igreja. O sepultamento se deu no mesmo dia, no Cemitério dos Protestantes, anexo ao Cemitério da Consolação, inaugurado anos antes num arrabalde distante do centro da cidade.
No livro de registro de sepultamentos, que até hoje se encontra na administração da necrópole, estão transcritos dois certificados: um do médico, declarando como causa mortis a “febre biliosa”, e outro do Rev. Blackford, com os seguintes dizeres: “Certifico que o Reverendo A. G. Simonton, a certidão de cuja morte vai anexa, era protestante e que era pastor da Igreja Evangélica Presbiteriana em Rio de Janeiro. São Paulo, 9 de dezembro de 1867. A. L. Blackford, pastor evangélico”.
A bonita lápide em mármore rosado (imagem adiante) tem o seguinte epitáfio em inglês (frente) e português (atrás): “Consagrado à memória do Rev. A. G. Simonton, 1º pastor da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, que morreu na cidade de São Paulo em 9 de dezembro de 1867, aos 34 anos, na firme esperança de uma bendita ressurreição. Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá (João 11.25)”.
Simonton nasceu no dia 20 de janeiro de 1833 em West Hanover, na Pensilvânia. Era o filho mais novo de um dedicado casal presbiteriano. Após concluir os estudos secundários na vizinha Harrisburg, ingressou no Colégio de Nova Jersey, a futura Universidade de Princeton. Em seguida à formatura, em 1852, trabalhou por um ano e meio numa academia para meninos em Mississipi. Converteu-se em 1855 num avivamento ocorrido na sua igreja em Harrisburg e no mesmo ano ingressou no Seminário Teológico de Princeton. Ainda no início dos estudos, ouvindo um sermão do Dr. Charles Hodge, resolveu tornar-se missionário no exterior. Em fins de 1858, apresentou-se à Junta de Missões Estrangeiras, manifestando o desejo de trabalhar no Brasil. Foi ordenado por seu presbitério em 14 de abril de 1859, chegando ao Rio de Janeiro em 12 de agosto.
Aquarela do século XVIII (ou XIX) da Baía de Guanabara (Crédito G. Haevel – Acervo particular)
No dia 22 de abril de 1860, dirigiu o primeiro culto em português e no ano seguinte iniciou uma classe bíblica nos domingos à tarde. Em 12 de janeiro de 1862, organizou a igreja do Rio de Janeiro, recebendo dois membros iniciais. Regressando de férias aos Estados Unidos, casou-se em 19 de março de 1863 com Helen Murdoch, em Baltimore. Helen veio a falecer em 28 de junho de 1864, nove dias após dar à luz a filha com o mesmo nome. No final daquele ano, Simonton lançou o jornal pioneiro Imprensa Evangélica. Nos anos seguintes, organizou o Presbitério do Rio de Janeiro, uma escola paroquial e um seminário teológico. No seu breve e árduo ministério, recebeu 80 pessoas por profissão de fé. Lançou, assim, as bases do presbiterianismo no Brasil.
Em 1866, o obreiro voltara a residir no centro do Rio de Janeiro, embora ali o perigo da febre amarela fosse maior. Quando advertido, respondeu: “Negociantes estrangeiros vivem nesta parte da cidade por causa dos negócios; missionários estrangeiros devem ter também ao menos igual dose de renúncia”. Quando seu estado de saúde se agravou, resolveu antecipar a visita anual a São Paulo, onde sua irmã Elizabeth, esposa de Blackford, criava a pequena Helen. Chegou à capital paulista no dia 27 de novembro de 1867, uma quarta-feira. Um artigo que começou a escrever para a Imprensa Evangélica ficou inacabado. Recebeu assistência de um piedoso médico norte-americano. A seu pedido, a igreja orou por ele na reunião de quarta-feira, dia 4 de dezembro.
No sábado, sentindo-se melhor, a irmã lhe fez algumas perguntas: “Tem algum recado para os amigos nos Estados Unidos?” – Nada de especial. Diga-lhes que os amei até o fim. “Alguma mensagem para a Junta de Missões?” – Diga-lhes que toquem adiante o trabalho. “E a igreja do Rio – que falta você irá fazer!” – Deus levantará outro para pôr no meu lugar. Ele fará sua própria obra com seus próprios instrumentos. Ao ver a irmã tomada de emoção, concluiu: – Devemos apenas nos recostar nos Braços Eternos e ficar sossegados. No dia seguinte, domingo, Blackford leu um salmo no quarto e um negro, membro da igreja, orou. O missionário expirou às 04h30 da madrugada de segunda-feira. Seu corpo foi sepultado às 18h do mesmo dia, com a presença dos crentes locais e de outros amigos brasileiros, ingleses e americanos.
Lápide sobre o túmulo de Simonton
Escrevendo oito dias depois, o missionário recém-chegado Hugh W. McKee testificou: “Ele era o primeiro em qualificações e o primeiro nos corações das pessoas. No breve tempo em que o conheci, achei-o um nobre cavalheiro cristão, um erudito consumado e um ministro do evangelho extremamente bem-sucedido”. No ano seguinte, o Presbitério do Rio de Janeiro assim se expressou: “Lamentamos sua perda como membro da família humana, como membro da igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, como nosso colega no Presbitério, como exímio pregador do evangelho, como homem muito ilustre no conhecimento das línguas mortas e vivas, e em todo gênero de literatura, como um dos primeiros escritores dos nossos dias, como bom amigo, bom companheiro e sobretudo bom esposo e pai”.
A igreja presbiteriana brasileira foi agraciada por ter um fundador tão consagrado, culto e eficiente. Sua dedicação a Cristo foi profunda; seu compromisso com a pregação do evangelho, sem limites; sua visão para o crescimento da obra evangélica, admirável. Deixou um valioso diário, bem como relatórios pastorais, sermões, folhetos, artigos, cartas e um importante documento, verdadeiro testamento espiritual, “Os meios necessários e próprios para plantar o reino de Jesus Cristo no Brasil”, lido ao presbitério cinco meses antes de sua partida. Sua memória abençoada tem inspirado muitas gerações a oferecerem o melhor de suas vidas para a glória de Deus, a expansão do seu reino e o bem da pátria brasileira. Graças a Deus por esse valoroso instrumento, por esse precioso legado!