Daniel Doriani
Os relatos bíblicos do nascimento de Cristo trazem respostas a todas as perguntas que as pessoas costumam fazer. Como? Uma virgem concebeu pela intervenção direta e milagrosa do Espírito. Por quê? Para inaugurar a fase culminante do plano redentor de Deus. Quando e onde? Em Belém da Judeia, durante o reinado de Herodes o Grande, quando Quirino era governador da Síria. No entanto, é inegável que os Evangelhos, particularmente Mateus, demonstram profundo interesse pela resposta à pergunta “Quem?” Quem é este que nasceu depois de tantos preparativos, entre sinais e prodígios tão maravilhosos?
É correto o interesse de Mateus pela identidade de Jesus. Estamos cientes de que todas as esperanças de se compreender os acontecimentos repousam no quanto se sabe a respeito dos personagens.
Jesus, o Salvador
Jesus é filho de Abraão, portanto é a esperança tanto de gentios quanto de judeus. Ele é filho de Davi (1.1), é o grande Rei dos judeus (2.2,6). Ele é o Cristo (1.1; 2.4), ungido de Deus para alguma tarefa essencial. Mas acima de tudo, ele é Jesus, o Salvador (1.1,21-23).
Jesus no hebraico é Josué; em grego, torna-se Jesus. Significa “o Senhor [Yahweh] salva” ou “o Senhor é salvação”.
Algumas pessoas foram salvas por Jesus da enfermidade e do perigo (8.25; 9.21-22), mas a libertação física não é a essência da sua obra. Em vez disso, toda libertação apontava para algo além, a divina e eterna restauração de todas as coisas (Sl 130.7-8). Deus se importa com o nosso livramento dos inimigos, das enfermidades e da morte, mas essa parte de seu plano está no futuro, para quando Jesus voltar.
Por meio da sua encarnação, Jesus começou a tratar do problema que está na raiz de todo sofrimento e dor. Ele veio salvar o seu povo dos seus pecados. Vemos isso já na genealogia de Jesus.
A genealogia revela que Jesus descendia dos reis judeus. Mateus cita 15 desses reis, de Davi a Jeconias, também conhecido como Joaquim. Portanto, Jesus tinha sangue nobre. Porém, percebemos que esse grupo régio não era particularmente íntegro. Cerca de metade dos reis constituía-se de homens de fé. Vários deles, incluindo Davi, Ezequias e Josias, foram grandes homens. Contudo, mesmo entre os fiéis alguns pecados ultrajantes foram cometidos.
Israel estava sofrendo as consequências do seu pecado (1.11-16). As fronteiras de Israel não haviam resistido. A Assíria depôs o rei de Israel e a Babilônia conquistou Judá, deportou seus líderes, e declarou com seus vassalos o miserável remanescente.
Cristo, o Ungido
O nome de Jesus foi escolhido. “Cristo” acabou tornando-se seu sobrenome na tradição cristã, mas originalmente esse é um título para o Messias. Como título, significava “ungido”. Ser ungido é ser separado e capacitado por Deus para uma tarefa por ele determinada. Em Israel, os sacerdotes eram sempre ungidos (Êx 28–30), os reis eram sempre ungidos (1Sm 9; 16) e, às vezes, também os profetas (1Rs 19.16).
O título “Cristo” representa um homem que é ungido com óleo e assim consagrado para um ofício especial. Jesus foi comissionado pelo Pai para uma tarefa especial. É essencial que deixemos que Deus determine essa tarefa. No tempo de Jesus, a maioria dos israelitas acreditava que o Messias de Deus os libertaria do domínio romano e, de algum modo, triunfaria sobre a injustiça e purificaria a nação.
Hoje sabemos que essas esperanças estavam parcialmente corretas e parcialmente equivocadas. É fato que Jesus triunfou sobre o pecado e purificou a nação, mas não libertou Israel de Roma. Porque Jesus não libertou o povo da maneira como o povo esperava, alguns ajustaram suas expectativas, mas muitos outros concluíram que ele não poderia ser o Messias.
O Filho de Davi, a esperança de Israel (Mt 1.1-17)
Jesus não é um rei qualquer. Ele é o filho de Davi (1.1). O título “Filho de Davi” parece organizar toda a genealogia. Há 14 gerações de Abraão a Davi, outras 14 da ascensão de Davi ao fim da sua dinastia, quando Israel foi para o exílio, e mais 14 gerações até que nascesse o Cristo, o filho de Davi (1.17).
No tempo de Jesus havia grande esperança por um rei que restaurasse Israel à sua glória passada e libertasse a nação da degradação e da opressão romana. Israel fundamentava essa esperança numa promessa feita pelo Senhor a Davi: um dia Davi teria um herdeiro, um filho que promoveria uma era dourada de poder e bênção (2Sm 7.12-15).
Esse rei ungido, esse filho de Davi e Filho de Deus, subjugaria os reis da terra e os regeria com cetro de ferro (Sl 2.2-9).
Adaptado de A Encarnação nos Evangelhos, capítulo 1, da Cultura Cristã.