Richard D. Phillips
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (Jo 1.14).
A glória do Verbo encarnado é revelada em João 1.14, mostrando que Cristo, o Logos, trouxe vida e salvação ao mundo. Jesus Cristo nasceu da virgem Maria no estábulo em Belém. Mas a Segunda Pessoa da Trindade não veio a existir por meio desse nascimento. João diz: “No princípio era o Verbo”, e, então, em dado momento, “o Verbo se fez carne”. O Deus Filho – o Verbo – não passou a existir em sua encarnação, mas foi aí que ele assumiu a nossa natureza humana somada à essência divina. A Confissão de Fé de Westminster explica: “O Filho de Deus…, sendo verdadeiro e eterno Deus…, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo, sem pecado” (VIII.2). A encarnação de Cristo significa que o Filho de Deus se tornou homem no sentido mais completo, mas sem perder nada de sua divindade. Paulo diz: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Da mesma maneira, Jesus não tem pecado sem perder nada de sua natureza humana. Sua verdadeira natureza humana não é corrompida.
O apóstolo João frequentemente escolhe palavras que contêm camadas de significados. Não há exemplo melhor do que sua utilização da palavra “Verbo” para descrever Jesus. Em grego, é Logos, que se refere a Jesus em termos do poderoso Verbo criador do Pai que estava no princípio. O evangelho de João glorifica Cristo como o Verbo por meio de cujo poder vem a nova criação, por meio da cruz e pelo túmulo vazio. Mas essa mesma palavra, Logos, também era um dos termos mais significativos na filosofia grega. Ao utilizar essa palavra, João construiu uma ponte entre o mundo filosófico grego e o mundo do pensamento hebreu do Antigo Testamento.
Um dos primeiros filósofos gregos foi Heráclito (6º século a.C.). Seu pensamento centrava-se no fato de que as coisas mudam constantemente. Sua famosa ilustração era de que nunca se podia banhar no mesmo rio duas vezes; pois ele nunca é o mesmo, porque a água correu. Tudo é assim, ele dizia. Mas se isso é verdade, como pode haver ordem no mundo? Sua resposta era o Logos, o verbo ou a razão de Deus. Esse era o princípio que mantinha tudo junto em um mundo de mudança. Existe um propósito e um plano para o mundo e seus acontecimentos, e isso é o Logos.
O Logos fascinou os gregos a partir de Heráclito. O que mantém as estrelas em seu curso? O que controla as estações? O mundo é cheio de ordem e de propósito. Por quê? A resposta é o Logos, a lógica divina, o Verbo. Platão disse: “Pode ser que algum dia venha de Deus um Verbo, ou Logos, que venha a revelar todos os mistérios e tornar todas as coisas claras”. Em um golpe de gênio divino, João pega esse fundamento e diz: “Escuta aqui, seus gregos, a coisa que ocupou a maior parte de seu pensamento filosófico e sobre a qual vocês vêm escrevendo há séculos – o Logos de Deus… veio à Terra como Homem e nós o vimos”.1
Jesus, o Verbo encarnado, é cada parte da resposta de que homens e mulheres precisam hoje, assim como precisavam os filósofos do passado. O psicólogo Erich Fromm argumenta que três dilemas insolúveis, problemas existenciais, são pragas que afligem o homem moderno. Em primeiro lugar, está o dilema da vida contra a morte. Queremos viver, mas todos nós morreremos. Jesus resolve esse problema dando vida eterna a todos que acreditarem nele. Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida… Todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (Jo 11.25-26). O segundo dos dilemas de Fromm é o dilema do indivíduo e do grupo. Jesus é a resposta para esse problema também, pois ele veio para romper todos os muros e fazer de cada um de seus seguidores um novo homem que é seu corpo místico (Ef 2.14-16). O último dos dilemas de Fromm é o que emerge do conflito entre as nossas aspirações e as nossas verdadeiras realizações. Todos nós ficamos aquém do que gostaríamos de ser e que acreditamos que seríamos. Existe uma resposta para isso? Sim, Jesus é a resposta para esse problema também, pois ele promete fazer de nós tudo o que Deus pensou para nós quando nos criou. Devemos ser conforme a imagem de Cristo.2
O industrial Henry Ford uma vez teve um colapso em sua linha de montagem que ninguém conseguia consertar. Desesperado, ele chamou Charlie Steinmetz, o gênio mecânico que tinha montado e construído a fábrica de Ford. Steinmetz apareceu, mexeu aqui e ali, virou uma chave e tudo começou a funcionar de novo. Alguns dias depois, Ford recebeu uma conta de US$10.000,00, uma quantia exorbitante naqueles dias. Ele escreveu de volta: “Charlie, você não acha que essa conta é um pouco alta só para virar uma chave? Aí, Steinmetz mandou uma conta revisada: virar a chave: US$10,00. Saber qual a chave: US$9.990”.3
Nosso mundo de hoje está terrivelmente estragado, e não há ninguém para consertá-lo a não ser aquele que o criou. Nossa nação não pode ser consertada por ninguém a não ser Cristo. As nossas igrejas e os nossos casamentos não podem ser consertados por ninguém a não ser pelo Verbo Criador. O mesmo se aplica aos nossos corações corrompidos que, afastados de Cristo, não têm paz nem satisfação. A glória da encarnação é que nosso mundo recebeu o Verbo tão aguardado, a resposta que veio para revelar a salvação na glória de sua pessoa e sua obra. A capacidade operacional de nossas vidas só será restaurada quando a fé salvadora receber Cristo, o Verbo.
Texto de Richard D. Phillips, extraído do livro A Beleza e Glória de Cristo, organizado por Joel R. Beeke, Editora Cultura Cristã.