Daniel 5 e 6
Não é verdade que para cada Daniel que Deus livra da cova dos leões há centenas de mártires sem nome que Deus não livra? Não têm os fiéis a Deus sofrido terrivelmente ao longo dos séculos e, algumas vezes, passando pela boca dos leões ou sendo queimados vivos? Não estão os crentes, ainda, sofrendo terrivelmente ao redor do mundo hoje? Onde está Deus nessas situações? Esses crentes são menos fiéis a Deus ou menos importantes pra ele do que Daniel?
Para responder a essas questões, precisamos ver que Daniel 6 proporciona algo mais do que simplesmente um modelo de como Deus lida com o sofrimento dos crentes ou como supostamente devemos permanecer firmes sob provação, como Daniel. Daniel 6 prenuncia o veredito que será dado a todos os crentes no dia do juízo final. Daniel suportou o teste da cova dos leões e saiu ileso porque Deus o julgou e o considerou inocente; como resultado, os leões, que atuam como agentes do juízo de Deus, não o feriram.
Contudo, os incrédulos que tramaram contra Daniel foram achados culpados e destruídos pelo juízo de Deus. Eles e suas famílias foram sentenciados à morte num prenúncio do julgamento pactuai futuro, como a destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 19), as famílias de Coré, Datã e Abirão, que foram engolidas vivas (Nm 16) e o extermínio dos habitantes de certas cidades cananitas (p. ex., Js 6). No último dia, Deus declarará culpados todos aqueles que estão em Adão e lhes dará o destino de destruição, enquanto encontrará inocentes os que estão em Cristo, permitindo que participem da glória e exaltação de Cristo.
Jesus e Daniel: da cova à ressurreição, o julgamento que anuncia a redenção eterna
Isso também nos leva a considerar como Jesus cumpre Daniel 6. Assim como aconteceu com Daniel, os inimigos de Jesus o acusaram falsamente e o levaram diante do governador, Pôncio Pilatos, que tentou, sem sucesso, livrá-lo de seu destino antes de entregá-lo a uma morte violenta. Assim como Daniel, Jesus foi condenado à morte, e colocaram seu corpo em uma cova selada para que ninguém pudesse intervir e mudar a situação. A provação de Jesus foi ainda mais profunda que a de Daniel, contudo, ele não meramente sofreu a ameaça de morte, mas passou pela morte. Nenhum anjo confortou Jesus com a presença de Deus em sua cova; pelo contrário, ele permaneceu nas trevas, completamente só e abandonado por Deus, sofrendo o destino que nós, culpados, merecíamos. Seu corpo ficou na tumba, nas frias garras da morte, por três dias até que o anjo finalmente apareceu para remover a pedra.
O prenuncio do julgamento final
No entanto, a experiência de Jesus é um prenuncio do julgamento final, uma declaração antecipada do veredito do tribunal celeste. Jesus morreu por nossos pecados, não pelos seus próprios, e a morte não tem poder final sobre ele, como um homem verdadeiramente inocente. Jesus não permaneceu na tumba: Deus o ressuscitou da morte, precisamente porque o tribunal celeste o declarou inocente.
Além do mais, quando Jesus saiu vivo da tumba quando o dia amanheceu naquele primeiro domingo de Páscoa, ele trouxe consigo o selo de absolvição de Deus não somente para si mesmo, mas para todos aqueles que a ele se juntarem pela fé. Quando Daniel saiu da cova dos leões, ele saiu sozinho. O livramento de Deus não salvou mais ninguém. Mas, quando Jesus saiu daquela tumba, ele guiou uma grande multidão de pessoas redimidas da cova por sua morte. A corte celestial dará o mesmo veredito a todo aquele que crer em Jesus, considerando a retidão dele como a deles. Por causa da obra de Cristo em lugar de seu povo, o Juiz divino dirá: “Inocente! Você está livre!” Agora também podemos encontrar o favor de Deus pela cruz de Cristo.
Da Queda à Glória: a promessa da salvação
As pessoas que Jesus redimiu pela sua morte e ressurreição não são todas supercrentes como Daniel. A maioria de nós somos pecadores comuns, pessoas que se curvam constantemente às demandas injustas do império. De nossa perspectiva terrena, não nos parece que a variedade de sofrimentos da humanidade profundamente caída que compõe a igreja tenha muito a seu favor. Que tipo de recompensa é essa aos sofrimentos de Cristo?
No entanto, Jesus não hesita em nos chamar de belos! Deus pode considerar bela até mesmo uma pessoa profundamente pecadora, pois Ele vê o resultado final do processo: a igreja gloriosa que apresentará a Si mesmo sem mácula ou ruga. Minha salvação não descansa em minha habilidade de “atrever-me a ser como Daniel”, mas somente na perfeita obediência de Cristo em meu lugar. No meio de um mundo de provações e tribulações, aí está onde minha paz e conforto descansam. No mundo porvir, ali estará toda a minha glória: a justiça de Cristo, dada a mim.
Estudos bíblicos expositivos em Daniel, de Iain M. Duguid, Cultura Cristã