Um dos obstáculos mais comuns para alegria é o pecado em nossa vida ou as atitudes pecadoras em nosso coração. A alegria cristã é, essencialmente, o gozo de Deus, o fruto da comunhão com ele. O pecado obviamente quebra essa comunhão e o prazer da sua presença. Quando Davi confessou seu pecado de adultério com Bate-Seba, orou: “Restitui-me a alegria da tua salvação” (Sl 51.12, grifo do autor).
O salmo 32.3-4 vividamente descreve a falta de alegria de Davi enquanto agonizava sobre seu pecado. Quando não estamos experimentando alegria, devemos examinar nosso coração e nossa vida. Estamos fazendo ou fizemos algo que desagrada a Deus que precisamos confessar e abandonar? Ou, como é frequentemente o caso, nos agarramos a alguma atitude pecadora, como inveja, ressentimento ou um espírito crítico e irreconciliável? O fruto da alegria não pode existir enquanto tais atitudes tiverem controle de nosso coração. Todo pecado, em atitude ou em ação, tem de ser tratado se vamos exibir a virtude da alegria em nossa vida.
Outro obstáculo para a alegria é a confiança mal empregada. Paulo falou para os cristãos filipenses: “Alegrai-vos no Senhor” (3.1). Ele então deixou claro que o oposto de alegrar-se no Senhor é confiar na carne – em nossas boas obras ou nas realizações piedosas. Para os cristãos na época de Paulo, isso era legalismo judaico. Para nós, hoje, pode ser nossas disciplinas pessoais, como um momento regular de calma, um programa consistente para memorizar as Escrituras ou a fidelidade de testemunhar para não cristãos. Seja qual for, se a fonte da nossa confiança não for Jesus Cristo e sua graça, é uma alegria falsa e frequentemente interrompida. Como diz Sanderson: “Até o sucesso na obra do Senhor é uma cana quebrada se nos apoiarmos nisso para segurança”.[1]
Se vamos ter alegria consistente, nossa atitude deve ser aquela expressa nas palavras do antigo hino:
Minha esperança é construída em nada menos
que o a sangue e retidão de Jesus:
Eu não ouso confiar na mais doce estrutura,
mas me apoio completamente no nome de Jesus.[2]
No relato de Lucas quando Jesus enviou os 72 para pregarem, ele diz que esses voltaram com alegria e disseram: “Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome”. Jesus respondeu: “Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (10.17-20). Jesus não estava desencorajando a alegria no ministério, mas prevenindo contra o fundamento da alegria de alguém estar no êxito de um ministério. O sucesso no ministério é temporário, mas nossos nomes sempre estarão escritos no céu para toda a eternidade. O estado das coisas dessa vida está sempre sofrendo alterações, mas a garantia de estar com Cristo um dia nunca muda. É nesse fato que nossa alegria deve estar baseada.
Anteriormente, me referi ao livro The Pursuit of Holiness, que tive o privilégio de escrever muitos anos atrás. Deus abençoou o ministério daquele livro bem além das minhas expectativas e fez isso puramente pela sua graça. Às vezes, sinto-me do mesmo modo que o garotinho que deu a Jesus seus cinco pãezinhos de cevada e dois peixes pequenos, e presenciou assombrado como ele os usou para alimentar cinco mil pessoas. Embora me alegre no que Deus fez por The Pursuit of Holiness, a base para minha alegria não deve estar em um livro e seu ministério, mas no fato de que meu nome está escrito no céu.
Talvez você não sinta que tenha muito a mostrar em sua vida. Talvez não tenha escrito um livro, adicionado pontos com Cristo por seu testemunho ou feito qualquer outra coisa que pareça significativa. Mas seu nome está escrito no céu? Em caso afirmativo, você tem tanta razão para alegrar-se quanto o cristão mais famoso e “bem-sucedido”. Nada que possamos fazer pode ser comparado a ter nosso nome escrito no céu. O cristão mais humilde ou o mais famoso estão juntos nesse mesmo fundamento.
Uma terceira área que pode sufocar a alegria em nossa vida é o castigo ou a disciplina que Deus administra frequentemente aos seus filhos. A Bíblia diz: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza” (Hb 12.11). A disciplina nunca é uma experiência alegre; não tem a intenção de sê-lo, caso contrário não atingirá os resultados almejados.
Se perdermos de vista seus resultados planejados ou acharmos que não merecemos isso, a disciplina pode conduzir a pena de si mesmo. Sanderson novamente provê um discernimento útil na relação entre a disciplina e a alegria quando diz:
Se soubéssemos quão ruins somos, daríamos boas-vindas ao castigo porque este é o modo de Deus se livrar do pecado e de seus hábitos. Mas o castigo é rejeitado, já que não conseguimos acreditar que tenhamos feito qualquer coisa que mereça isso.[3]
O segredo de manter alguma semelhança de alegria em meio à disciplina é lembrar-se de que “o Senhor corrige a quem ama”, e que “toda disciplina… depois… produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.6,11).
Experimentar provações de fé é um quarto obstáculo à alegria. Provações diferem de disciplina porque o propósito delas é exercitar nossa fé, não tratar de pecado. Em sua infinita sabedoria, Deus permite provações para poder desenvolver a perseverança em nós e fazer que nos firmemos na glória que ainda será revelada.
Provações podem aparecer de várias maneiras: problemas inoportunos de saúde, revés financeiro, crítica e rejeição, perseguição constante. Qualquer que seja a forma da provação e por mais severa que seja, a intenção é fortalecer nosso caráter. Levantadores de peso e outros atletas têm um ditado: “Sem dor não há vitória”. A mensagem é clara. Levantadores de peso sabem que têm de suportar a agonia de erguer mais que seus músculos podem aguentar se querem aumentar sua força. É assim com a fé. Ela e a perseverança podem crescer somente sob a dor da provação.
Muitas vezes, nossa reação a provações é como a de Jó. No começo dela, ele reagiu positivamente com a declaração: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do SENHOR” (1.21). Mas, à medida que o tempo avançou e as provações, agravadas pelas falsas acusações dos seus amigos, continuaram, a fé e paciência de Jó cederam-se. Ele finalmente chegou a dizer: “De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus” (34.9). Embora a fé de Jó acabara-se, a fidelidade de Deus não. Ele ficou com Jó até que esse aprendeu a lição da soberania de Deus e então deu a Jó o dobro do que tinha antes.
A fidelidade de Deus também deve ser conforto para nós em horas de provações. “Ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias” (Lm 3.32).
Texto extraído do livro A vida frutífera, de Jerry Bridges, Editora Cultura Cristã
Jerry Bridges faz parte do ministério acadêmico do “The Navigators”. É palestrante reconhecido mundialmente, autor de Graça que transforma, desta editora, entre outros livros, e vive com sua esposa, Jane, em Colorado Springs, nos EUA.
[1] Sanderson, op. cit., págs. 65, 66.
[2] Primeira estrofe do hino “My hope is built in nothing less” escrito por William Bradbury e Edward Mote [N. do R.].
[3] Sanderson, op. cit., pág. 71.