Por Cláudio Marra
Oposição, perseguição e martírio têm acompanhado a igreja em sua história.
Depois de Elias, Isaías e outros perseguidos ou martirizados no Antigo Testamento, Estevão é o primeiro mártir mencionado no Novo Testamento. Sua prece derradeira, “não lhes imputes este pecado” (At 7.59-60) tem ecoado ao longo dos séculos.
O bispo Policarpo de Esmirna (69—155 d.C.) foi amarrado em uma estaca e queimado. Preso para animar uma festa pagã, teve a oportunidade de escapar negando publicamente a Cristo, mas recusou-se: “Eu tenho servido a Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Redentor?”.
Oposição em tempos recentes
Em tempos mais recentes, Dietrich Bonhoeffer (1906—1945), teólogo e pastor luterano alemão, combateu a influência nazista sobre a igreja alemã e foi morto pelo regime pouco antes do término da guerra.
Richard Wurmbrand (nascido Nicolai Ionescu, 1909—2001) foi um pastor romeno. De família judia, converteu-se ao cristianismo em 1938. Quando o regime comunista assumiu o poder na Romênia, ele continuou pregando clandestinamente e em 1948 foi preso por sua fé. Passou catorze anos em prisões comunistas sofrendo tortura e maus-tratos. Liberto em 1964, Wurmbrand e sua esposa, Sabina, emigraram para os Estados Unidos. Lá, ele fundou a A Voz dos Mártires, organização que ajuda cristãos perseguidos em todo o mundo. Em seus inspiradores livros Torturado por amor a Cristo e Cristo em cadeias comunistas, ele descreve experiências na prisão e seu compromisso com a fé cristã em meio à perseguição.
O Irmão André, cujo nome verdadeiro era Anne van der Bijl (1928—2022), foi um missionário holandês conhecido por seu contrabando de Bíblias para países atrás da Cortina de Ferro. Publicou O Contrabandista de Deus (De Smokkelaar van God), onde relata seu contrabando de Bíblias para cristãos em países fechados para o evangelho. Fundou a organização Portas Abertas em 1955, que apoia cristãos perseguidos em mais de 60 países.
Em seu mais recente livro, Memórias de dois peregrinos (sendo lançado pela Cultura Cristã), o Rev. Francisco Leonardo Schalkwjik conta o martírio de sua cunhada, Minka Hanskamp. Com Margaret Morgan, eram missionárias enfermeiras da Overseas Misssionary Fellowship na Tailândia e trabalhavam com leprosos. Foram mortas em 1975.
165 anos de severa oposição
A história da IPB registrou também severa oposição em seus primeiros tempos, incansável perseguição e martírio de crentes. Com a palavra, Júlio Andrade Ferreira, antigo historiador de nossa igreja.
“Dr. Butler tinha pregado em S. Bento em casa particular, onde ele e seus companheiros passaram a noite. Na manhã seguinte preparavam-se para voltar a Canhotinho [PE], e enquanto montavam foram surpreendidos pela agressão de um estafeta cujo roteiro era muito distante, no interior. Esse indivíduo tinha sido contratado para assassinar o Dr. Butler, que estava já sobre seu cavalo quando o tal chegou. Manoel Vilela, o último a montar, atirou-se entre o Dr. Butler e o assassino, que com seu punhal o feriu com tremendo rasgo no peito, matando-o instantaneamente.
Dr. Butler, esquecendo-se do risco próprio, saltou do cavalo e pôs-se de joelhos junto ao amigo. A morte deste era consumada, e o missionário, em pranto, levantando-se, exclamou: ‘Mata-me também! Satisfaze a tua sede de sangue. Não sou melhor do que o amigo a quem tiraste a vida’.
O corpo do protomártir de Pernambuco foi levado a Canhotinho, onde moravam os amigos do morto e onde havia uma congregação evangélica.”
E agora?
Os tempos mudaram, mas não acabou a oposição ao cristianismo. Com o emprego de modos mais sofisticados, mas igualmente danosos, os inimigos da fé continuam em ação, sob o comando de seu maligno general.
O mais recente e difundido ataque à fé cristã acaba de ocorrer. Na abertura dos jogos olímpicos de Paris, A Última Ceia, famoso quadro de Leonardo DaVinci, foi satirizado tendo drag queens como apóstolos e um DJ como Jesus. Depois de uma tentativa inicial de negar o deboche, atribuindo ignorância aos cristãos, porta-voz dos organizadores lamentou e se desculpou, atribuindo a iniciativa ao desejo de estimular a inclusão. Atletas cristãos, porém, que tentaram divulgar o nome de Jesus foram advertidos ou impedidos.
Cada ano que a igreja resiste vivendo e anunciando com fidelidade o evangelho é nova oportunidade para grata celebração.
As vítimas de perseguição e martírio citadas acima não se esconderam. Foram proativas. Ao dizer que “as portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16.18-20) contra a igreja, o Senhor revela uma igreja em ação, empenhada em resgatar os que caminham para a morte.
Isso fazemos há 165 anos. Pela graça de Deus e no poder do Espírito continuaremos a fazer.
O Rev. Cláudio Marra é editor da Cultura Cristã